Artigo publicado no Portal da Cidade de Registro

Educação Emocional – Parte 1

Não é matéria no vestibular, mas faz toda a diferença para termos bons resultados neles. Não se aprende na escola – ops, na grande maioria delas – mas precisamos aprender para ter um bom desenvolvimento no trabalho. Em casa, muitas vezes é um assunto intocável, tido como estranho, mas faz a diferença na construção de relações saudáveis ao longo da vida.

Mas do que eu estou falando?

Aprender a gerenciar nossas emoções é fundamental para se viver bem, seja com a gente mesmo, seja nas relações pessoais, sociais e na realização profissional.

As emoções são quase um tabu. Estou exagerando? Pergunte para as pessoas como elas se sentiram em determinada situação e escute as respostas. 99% delas vai te dizer o que “pensa” sobre aquilo. O restante vai te falar que se sentiu mal ou bem, sem saber identificar mais claramente. Somos convidados a racionalizar e aprendemos desde pequenos que há uma soberania da razão sobre a emoção e também sobre o corpo – onde a experienciamos. O que nada mais é que uma negação de nós, como seres humanos e imprevisíveis que somos. A racionalização vem na busca ilusória de ter um controle sobre tudo. Mas, negar que somos também, seres emocionais e corporais, pode nos aprisionar e adoecer. Razão e emoção são complementares, formam um todo, não são excludentes.

As emoções são da nossa natureza humana, são reações que nos contam de nós e da nossa relação com o meio. São grandes aliadas para percebermos quem somos, o que queremos, como percebemos o mundo ao nosso redor, como somos afetados por isto ou aquilo, o que nos faz bem e o que nos faz mal. Mas as tratamos como vilãs. Aprendemos a separá-las em emoções boas e ruins, permitidas e proibidas. E assim, crescemos, na nossa grande maioria, engolindo o choro e a raiva, porque esses fazem parte do proibido. E nos cobrando sermos felizes, estarmos alegres o tempo todo. Como resultado, temos pessoas deprimidas se cobrando porque não estão felizes todo o tempo – fala a verdade, quem está? Temos pessoas explodindo e agindo agressivamente, sem nenhum controle, metendo os pés pelas mãos quando a raiva não cabe mais em si e tem que achar um meio de sair e se expressar.

Parecemos crianças na fase em que só existe o que elas veem diante de si. Acreditamos que se fingirmos não sentir essa ou aquela emoção, ela simplesmente desaparece, como a mágica nos contos de fada.  Ao fazermos isso, estamos abrindo mão tanto de uma parte de nós que nos faz humanos, quanto da capacidade de utilizar isso a nosso favor. Estamos realmente perdendo o controle, pois só podemos trabalhar com aquilo que conhecemos.

Claro que tem emoções mais fáceis de lidar e que nos aproximam das pessoas e outras mais difíceis, que podem nos distanciar das pessoas. Todas as emoções são bem vindas, pois nos trazem informações importantes. Acolher nossas emoções é um grande aprendizado para os adultos que somos. Acolher é reconhecer, é dar lugar a cada uma delas na nossa vida. Esse é o primeiro passo da alfabetização emocional. É o caminho para aprender a gerenciar as emoções. Negá-las é a forma mais direta de perder o controle sobre elas.

Esse processo é um processo de reconhecimento de nós mesmos, de chegar perto, de prestar atenção – num estado contemplativo e não de julgamento.

 

Educação Emocional – Parte 2

Ter raiva não é feio, é natural em diversas situações. Reconhecer que sentimos raiva é parar para olhar para essa situação e entender o que está acontecendo. Quando reconheço minha raiva e o que a despertou, posso escolher como lidar com ela, da melhor maneira possível. Posso evitar a situação que a despertou ou criar estratégias para lidar com isso. Tomo as rédeas na minha mão. Tenho escolha. Quando a nego, ela conduz sorrateiramente minhas ações por baixo do pano – inconscientemente. E aí sim, fico sem ter como conduzir as situações, me torno refém da minha raiva.

Escolhi essa emoção porque é meio padrão a dificuldade em lidar com a raiva – alguns engolem e implodem ao longo da vida, outros saem destruindo tudo a sua volta.

A grande armadilha é que, se nós, pais, temos tamanha dificuldade em nos reconhecermos seres emocionais, em tratar as emoções como naturais e amigas, em saber como lidar com elas de modo proveitoso, como temos feito com as emoções das nossas crianças?

Seguimos mandando eles engolirem o choro? Abraçar o irmão no momento da raiva?  Como você adulto se sentiria se tivesse que fazer isso, ou como se sente quando faz?

Assim estamos negando uma parte essencial deles, como temos feito conosco desde sempre e os impossibilitamos de sentirem-se inteiros, verdadeiros e de desenvolverem suas próprias ferramentas para lidar com suas emoções. A grande chamada aqui é que só conseguiremos auxiliá-los a lidarem com suas emoções e desenvolverem a famosa inteligência emocional tão desejada hoje em dia, quando não nos apavorarmos mais ao entrar em contato com elas. Quando nós mesmos pudermos nos aceitar inteiros. Quando nós aprendermos a lidar com as nossas. Aí, então, podemos dar suporte às nossas crianças.

Dar espaço para que nossos filhos sintam as emoções, sejam elas quais forem, conseguir estar presente, sem julgamento, é uma abertura sem tamanho na relação com eles – um ganho afetivo e também na estrutura emocional deles.  Dá a segurança de poderem ser eles mesmos e de poder contar conosco para descobrir a melhor forma de “o que fazer com isso”.

Como? Comece por você:  se olhe, se perceba, se reconheça, se aceite. Cuide de você com carinho.

Sei que, talvez, você nunca tenha feito isso.

Abrir mão da figura idealizada de pai e mãe que criamos, nos permite estar com eles de maneira mais leve, presente e conectiva. Não temos que saber tudo o tempo todo.

Como pais mais do que nunca, é preciso se permitir mudar, de postura, de opinião, de casa, de programas, de sonhos, de tudo. É preciso se redescobrir. Na presença e na conexão vamos tendo as respostas do caminho a seguir e, às vezes, do passo da vez. É desafiador, mas pode ser uma grande aventura a trilhar com eles!

Luciana Calazans é Coach, psicóloga e parceira no Espaço de Vivencia Maternal e Jardim de Infância Abra a Caixa.

 

Open chat
Estamos Online :)
Olá, tudo bem?
Estamos online no Whatsapp :)